sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

Apelido de sobrenome: um costume que atravessa épocas

 Reproduzimos aqui essa matéria muito interessante cuja fonte se encontra nessa url :

https://www.jornaloflorense.com.br/variedade/arquivo-o-florense/5/apelido-de-sobrenome-um-costume-que-atravessa-epocas/333

Em Flores da Cunha e Nova Pádua descendentes de italianos conservam hábito dos antigos
VVocê conhece os Malerba? Ou os Bagiga? Provavelmente já conversou com algum Sássi. Se a resposta for afirmativa, saiba que você ainda preserva os hábitos dos imigrantes italianos, que costumavam rebatizar os amigos e conhecidos com apelidos. Isso acontecia devido a características que possuíam, como aspectos físicos, profissões, dialeto falado, locais de residência ou procedência. Por exemplo: os Sássi, citados acima, são os Baldissera, que antigamente trabalhavam no corte de pedras, ou seja, sássi, em dialeto. Por causa disso, a família Baldissera ficou assim conhecida. Inúmeras vezes esses apelidos prevaleciam, e até hoje prevalecem sobre o sobrenome das pessoas. Em localidades do interior é comum as famílias se conhecerem mais pelo apelido do que pelo próprio nome ou sobrenome. “A pessoa passava a ser identificada, chamada e notada pelo apelido, de tal forma que era mais fácil localizar uma pessoa pelo apelido do que pelo próprio nome. Muitos apelidos, no decorrer do tempo, transformaram-se em sobrenomes, muitos dos quais vigentes em nossas comunidades”, explica a doutora em Educação e professora de bilingüismo e dialetologia do Brasil Meridional da UCS, Vitalina Maria Frosi.
A professora aposentada Ema Zin Veccini, que durante 15 anos lecionou na Escola Tiradentes, em São João, e na localidade de São Caetano, recorda que muitos dos seus alunos eram conhecidos pelos apelidos das famílias. “Lembro dos Buzet (Dal Bó), dos Sonador (Durante), dos Scarpolin (Maurina) e de vários outros que recebiam o apelido conforme a profissão”, conta.
De acordo com o pesquisador e escritor Rovílio Costa, os próprios sobrenomes foram se formando a partir das maneiras que as pessoas se referiam entre si, por exemplo: Dalla Costa pode significar alguém que morava na Costa; Dal Molin pode ser alguém que era moinheiro; Sartor pode ser filho de alfaiate. “A maioria dos sobrenomes são masculinos e depois vão tomando formas diminutivas ou aumentativas, indicando características corporais dos progenitores, profissões, localidades de origem, características de objetos, de defeitos corporais, manifestações psicológicas”, pontua Costa.
Origem
Desde que nasce a pessoa recebe um nome e um sobrenome (em italiano, cognome) que são registrados em cartório. No decorrer da sua vida, ela também pode receber um apelido (em italiano, soprannome). Segundo a professora Vitalina Frosi, nem sempre se consegue encontrar a origem de alguns sobrenomes e nem mesmo a de alguns apelidos. Ambos são transmitidos de geração em geração, porém algumas vezes determinados apelidos são substituídos por outros no decorrer do tempo. “A origem de alguns apelidos perde-se no tempo. Sabe-se, contudo, que eles advém de uma característica física, de um atributo moral que pode ser positivo ou negativo”, frisa Vitalina.
O pesquisador Rovílio Costa aponta que quando os apelidos começaram a ser usados para indicar filhos e filhas foram tomadas em consideração as manifestações do progenitor, sendo muito raramente da progenitora. Diziam-se os Carminati, por serem filhos de Carmine, os Castorin, por serem filhos de Castori. “Para explicar cada nome entram variantes de sufixos, prefixos, indicando formas, atividades, crenças, atribuições, comportamentos, atividades, nas formas mais variadas devido as variantes latinas das diferentes italianos aladas na Penísula. Os apelidos sempre consideram o exótico das pessoas, não o comum”, aponta Rovílio.
O costume de identificar as pessoas conforme características é antigo e procede antes de mesmo do nascimento de Cristo. Os antigos romanos já usavam a forma para identificar os cidadãos. O Rei de Roma Tarquínius Superbus denominava-se assim por ser soberbo, orgulhoso.  E o próprio Cristo é conhecido como Nazareno por ser de Nazaré.
Apelido virou investimento
A proprietária da Cantina Sacarolla, Ivete Stangherlin Paviani, nunca viu problema em ser chamada de sacarolla e viu no apelido da família Stangherlin um bom investimento. Desde que o bisavô de Ivete, Pedro Stangherlin, chegou da Itália a família já era conhecida com Sacorol. Isso porque na Itália eles costuravam sacos. Quando a família Stangherlin se estabeleceu em Nova Pádua o apelido continuou. “As pessoas sempre me chamaram de sacarolla”, recorda Ivete. Há três anos e meio quando resolveu montar o seu restaurante uma grande dúvida surgiu: que nome colocar no empreendimento? Na mesma época Ivete foi para São Paulo visitar um irmão e comentou que iria abrir um restaurante, mas ainda não tinha escolhido o nome.  “Ele, então, me disse que eu já tinha um nome: Sacarolla”, conta. Mas, ao sugerir o nome para os filhos, eles não aceitaram. Mesmo assim, Ivete foi firme na decisão e decidiu que o nome do restaurante seria o apelido. Com o tempo, os filhos acabaram gostando da idéia. “No dia de assinar os papéis o meu filho voltou a pedir qual seria o nome e eu disse o que havia pensado. Ele disse: então vai ser sacarolla”, diz. O nome caiu do gosto e muitas pessoas que vão ao restaurante costumam pedir o que significa.
Além do restaurante Sacarolla, o pai de Ivete, Miguel Stangherlin, colocou o apelido em um vinho e agora está registrando sua cantina como Sacarol. Embora, tenha alguns parentes que não gostam de serem chamados de Sacarol, Ivete sempre gostou do apelido. “Sempre fui conhecida assim. E perpetuar isso é uma forma de preservar porque muitos dos apelidos de antigamente estão sendo esquecidos”, frisa.
Uma família que é mais conhecida pelo apelido
Apesar de ser uma das mais tradicionais famílias de Flores da Cunha, e que na sua história política já foi representada na Câmara Federal, Assembleia Legislativa, além de vice-prefeito de Porto Alegre, com o atual secretário de Planejamento da prefeitura de Porto Alegre, José Fortunatti, os descendentes da família Fortunatti não souberam explicar porque são conhecidos como Bagiga. No entanto, em qualquer parte do município, a referência ao apelido remete aos Fortunatti, principalmente nas localidades da Restinga ou Santa Líbera. Conforme Aparício Fortunatti, atualmente residindo em Caxias do Sul, durante algum tempo funcionou um moinho de trigo na localidade de Santa Líbera, conhecido por Moinho Bagiga, na época dirigido por Pedro e Luiz Fortunatti, que funcionou até 1933. Depois disso, os sócios adquiriram uma trilhadeira de trigo, e permaneceram sendo conhecidos pelo apelido. Na cidade, Clademir Fortunatti, que em 2004 concorreu a vereador pelo PSB, fez seu marketing de campanha com o slogam: Na cidade ou no interior, Bagiga para vereador. Também mantinha um escritório de contabilidade: Escritório Bagiga.

Emprego a toda a família
Não é difícil descobrir porque os descendentes da família Dalsoglio são conhecidos por Talian. Conforme Idivino Dalsoglio, seu avô Ângelo veio da Itália ainda novo, por isso da distinção. Isso ocorreu também com outras famílias, que eram identificadas por apelidos que faziam referências ao local de origem. Após trabalhar durante muitos anos como taxista, sendo conhecido no Município por Talian do Táxi, Idivino, com auxílio dos filhos Leomar e Gilmar, e da esposa Genoveva Mascarello Dalsoglio, montou uma empresa, usando o apelido na logomarca da Metalúrgica do Italiano. Com isso, tirou proveito do costume e emprega toda a família.
Apelidos dos sobrenomes
O jornal O Florense com o apoio de dezenas de pessoas e de entidades reuniu diversos apelidos de sobrenomes. Numa pesquisa realizada junto às famílias e a pesquisadores foram elencados o porquê de cada apelido. Alguns sobrenomes aparecem com diversos apelidos, isso se justifica pela diferenciação entre uma família e outra. Abaixo confira os apelidos dos sobrenomes e como eles surgiram.
Matéria originalmente publicada no Jornal O Florense de setembro de 2007.
 Por Danúbia Otobelli - Danubia@jornaloflorense.com.br

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